Monday, July 07, 2008

A dor é de quem tem.


Tentou contra a existência
Num humilde barracão.
Joana de tal, por causa de um tal joão.

Depois de medicada,
Retirou-se pro seu lar.
Aí a notícia carece de exatidão,
O lar não mais existe
Ninguém volta ao que acabou
Joana é mais uma mulata triste que errou.

Errou na dose
Errou no amor
Joana errou de joão
Ninguém notou
Ninguém morou na dor que era o seu mal
A dor da gente não sai no jornal.

Chico Buarque.

É verdade. Ninguém vive em nossa dor exceto nós mesmos. Ninguém a toma pra si. Porque é nossa, nos pertence. Ninguém apreende pra si o que é do outro, e quando o faz, vive uma das dores mais pungentes, - a dor da impotência.
Lidar com o avesso de ter dor ou senti-la no outro nos localiza na humanidade. Nos retém e especifica nesse lugar de passagem.
Entregar - se à ela como se entrega a alguém que se ama é um desafio. É para os sábios. Para os que já não temem mais a perda. Para os que perderam em si o que foi ilusão de sentido. Para os que renascem dos remendos que o outro rasgou. Para os que rasgam o que foi beleza passageira. Para os que não tem medo do que é podre e vil. Para os que se rebelaram diante da solidão antes do abate do mundo.
Para os que aprenderam a ser, depois de uma vida errante no espelho do outro.
Enfim, para os que também são dor.

1 comment:

Anonymous said...

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