Saturday, December 13, 2008

Colcha de Retalhos


Tudo na vida se dá aos poucos e requer continuidade. Quando não continuamos, perdemos. Quando perdemos, desistimos um pouco de nós no outro. Cuidar para não ser esquecido nos que te amam é o maior desafio.
Todos nós frustramos o amor projetado em nós. Muitas vezes fazemos do outro, vítima do nosso amor, ou do nosso desamor. Muitas vezes o olhar do outro sobre nós é tão- somente o reflexo de muita dor contida, de muita expectativa projetada.
É preciso ter cuidado com as certezas, com as opiniões fechadas. O ser humano é infinito demais para caber em um conceito como : - Pedro é egoísta. Joana é fria e calculista. Bruno é orgulhoso e maldoso. O ser vai muito além disso e muitas vezes está cheio de pérolas escondidas.
Não acredito em amor que não busca compreender, em amor que não perdoa e que tira conclusões precipitadas. Acredito no amor que demora, que requer continuidade e olhar, e se preciso for, que muda o olhar para poder sobreviver.
Olhar para o que precisa ser visto e desviar o olho quando o que se vê é infinitamente doloroso faz parte da dinâmica emocional do ser humano. Por diversas vezes o que vc vê de ruim no outro é apenas fruto da sua breviedade em seu olhar. Muitas vezes é fruto da mesquinharia em olhar apenas o que machuca, o que interessa.
Tem pessoas que nos encolhem quando olham pra nós. Outras nos ampliam. É tudo uma questão de processos íntimos, de sabedoria, de desejo.
Amizades sofrem ciclos, assim como qualquer relaçaõ onde exista movimento.
No entanto, por vezes perdemos amigos verdadeiros por não compreendermos o novo ciclo, por entender o ciclo como abandono e não como mudança de fase, de paradigmas, de necessidades.
Pessoas que consumam atitudes em adjetivos são pessoas perigosas. Cuidam somente quando existe interesse latente, e quando esses interesses não são devidamente atendidos, pisam no amor dos outros.
Interpretações, conceitos, possibilidades. Constructos acerca do que o outro é. Quantas vezes nos enganamos, quantas vezes somos falhos e taxativos. Quanta frieza possuímos pois somos muito pouco misericordiosos. Somos pouco amantes dos outros. Somos juízes nas relações.
Relações são colcha de retalhos ... não são tecidos novos e perfeitos.
Pena que ainda vivemos no paraíso perdido de Proust.

Saturday, November 29, 2008

Solidão


Quando fico alguns dias sozinha, não quero mais voltar pro mundo, pras pessoas. É como se o meu mundo me abduzisse e eu não tenho mais vontade de ser eu pro outro.
No entanto, a realidade nos chama pro que é preciso ser, pro que é preciso lidar, enfrentar, conceber, proteger. Não tenho me protegido, não tenho protegido o que amo. E me perceber falha e limitada nesse meu amor tem me deprimido.
A depressão é uma maneira de nos fazer voltar pro nosso verdadeiro encontro. Com nossas chagas de vazio, com nossas marcas de cuidado, com nosso universo de medo e coragem coagulados dentro do peito.
Tenho amado pouco demais. Tenho vivido pra fora demais. Tenho sido pro mundo e não, do meu mundo.
Fui expulsa de mim e é árduo remendar.
Meu coração pede distância. Pede carinho. Pede outra chance.

Wednesday, October 08, 2008

Cuidados de gente em nós.


Cada um tem um cuidado. Cuidado que fragiliza ou cuidado que fortalece. Mas nem todos sabem cuidar de um coração sofrido ou de uma alma rebelde. Parece que falta o amor quando existe muito afastamento, muita solidão, muito amor dolorido.
Têm pessoas que nos cuidam simplesmente por falta de amor por si mesmas. Outras com o melhor amor de si para nós.
Algumas nos tolhem em nosso mais nobre amor. Outras fazem nascer do deserto, uma flor, que apenas pede um cuidado mais diário.
Nenhum amor pode fugir da continuidade, ele sobrevive dela. Amor não cuidado se torna parte enfermiça dentro de nós. É como quando não aprendemos deixar o outro partir, e fica em nós, sem cuidado nenhum. Muitas vezes deixamos o outro em nós ao relento - sem uma nesga de carinho, sem um olhar mais demorado. Apenas damos a gota para que não morra ... e por sabedoria da vida que anseia por um futuro florido, sobrevive-se.
Não deixe seu amor no outro desfalecer. Cuide. Olhe. Acalente. Algumas vezes é preciso falar do que precisamos para que o outro fique em nós. Senão ele vai embora, - não por si mesmo, mas simplesmente porque já não sabem mais do que precisamos ...
Eis a vida ... em suas guerras frias.

Saturday, October 04, 2008

...

Escrevo desta vez sobre o comentário anônimo deixado para mim em relação a minha tristeza.
A tristeza é sempre uma maneira de interpretar a vida, ou tão - somente, uma maneira de interpretar o que eu escrevo sobre ela.
Ninguém é triste antes de ser feliz. São paradoxos que fazem parte da vida. Um lado não sobrevive sem o outro.
A questão é porque minha tristeza te mobilizou tanto se é apenas minha?
Pense nisso ... não há nenhum mal em ser triste. Quando se trata de emoções não pode existir juízo de valor ... apenas se sente.

Thursday, October 02, 2008

Dias!


Tem dias que sou da tristeza. Tem dias que sou da alegria.
Tem dias que não estou comigo. Noutros volto a ser quem sou.
Tem dias que sou inútil, e o que me salva são os significados que já abarquei.
Tem dias que sou ninguém. Que não sinto o mundo. Que estou à margem.
Tem dias que dói o dia todo e nem sei a razão. Noutros o coração parece encantado com o mundo.
Me perco no que não encontro em mim. Me acho no que não sei do mundo.
Vivo no eterno paradoxo de sentir.
Liberto em mim o que já não posso ser por ora.
Permito-me ficar no meu mundo bom quando não quero auscultar o que já existe de concreto.
Sou assim.
Volto assim.
Mas vivo inacabada ...

Tuesday, September 30, 2008

meu jardim.


Meu Jardim
Vander Lee
Composição: Vander Lee

Tô relendo minha lida, minha alma, meus amores
Tô revendo minha vida, minha luta, meus valores
Refazendo minhas forças, minhas fontes, meus favores
Tô regando minhas folhas, minhas faces, minhas flores
Tô limpando minha casa, minha cama, meu quartinho
Tô soprando minha brasa, minha brisa, meu anjinho

Tô bebendo minhas culpas, meu veneno, meu vinho
Escrevendo minhas cartas, meu começo, meu caminho
Estou podando meu jardim
Estou cuidando bem de mim



Essa letra é meu pranto de vida neste meu momento. Momento de transição, de tomar conta do que é meu. Da minha alma velha e sabida de dores familiares.
Retornos do mundo em nós. Capas da vida que pedem o imperativo do amor.
Bengalas de afeto mal dividido e que necessita ascese.
A vida e seus mimos terráqueos impelindo-nos a um jardim mais cuidado.
Cuidados comigo, cuidando do outro. Nascendo comigo, vivendo pro mundo.
Tempo de podas. Tempo de lida. Tempo de tourada.
Fins da emoção. Inícios de mim. Pedágios para o amor.
Para a dor de ser viva.
Sentir sem tolher. Tolher sem gritar.
Escutar o vagido dos indefesos.
Perdoar o que não pode vingar.
Terra. Flores. Frutos.
Espinhos.

Thursday, September 25, 2008

23 anos.


Meu aniversário.
Esse ano veio com o gosto de sangue. Deve ser por minha intimidade triste já de algum tempo, mas nada como a vida para nos amadurecer aos poucos. Nada como esses golpes certeiros que nos fazem alçar vôo em tempo mais breve. São em verdade, nossos maiores presentes, nossas maiores alegrias travestidas de dor.
Não é fácil viver, todo mundo sabe. Não é fácil ser feliz, dá trabalho; exige tato, exige paladar.
Sentir os gostos da vida, cada um em sua especialidade de nos sustentar, enquanto seres espirituais vivendo na passagem por este mundo.
Seres de Deus, vivendo no mundo.
Vou vivendo, tentando encontrar minha paz, tentando ser uma pessoa melhor, embora com tantos erros marcados no coração das pessoas.
Vou tentando existir ...

Monday, September 22, 2008

Podas.


A poda das pessoas em nós.
Alguns nos podam o orgulho, alertando- nos para o verdadeiro sentido do amor.
Outros nos podam na vaidade, fazendo-nos ver além das aparências do mundo.
Também existem pessoas que nos poldam com o simples gesto de um desamor ou de um amor que sempre fica pra depois.
Tem pessoas que somente crescem pra nos fazer bem quando podadas. Já outras partem com qualquer mudança na estrutura da planta.
Assim vivemos a vida com seus intransferíveis limites.
Assim podamos também.

Saturday, September 20, 2008

No Rancho Fundo


No rancho fundo, bem pra lá do fim do mundo
Onde a dor e a saudade contam coisas da cidade
No rancho fundo, de olhar triste e profundo
Um moreno conta as mágoas tendo os olhos rasos d'água
Pobre moreno, que de tarde no sereno
Espera a lua no terreiro tendo o cigarro por companheiro
Sem um aceno ele pega da viola
E a lua por esmola vem pro quintal deste moreno
No rancho fundo, bem pra lá do fim do mundo
Nunca mais houve alegria nem de noite nem de dia
Os arvoredos já não contam mais segredos
E a última palmeira já morreu na cordilheira
Os passarinhos internaram-se nos ninhos
De tão triste esta tristeza enche de trevas a natureza
Tudo por quê? Só por causa do moreno
Que era grande, hoje é pequeno para uma casa de sapê


Acho linda essa letra. Ela fala tanto de mim, de você, do mundo.
Fala de tristeza. De recomeços.
De saudade. De dores continuadas.
Da Natureza e seus ciclos.

Hoje me faltam as palavras para expressar o que sinto. Hj eu me falto. Estou em falta.
Perdi minha tristeza em meio a tudo isso e só me restou a solidão.
Uma dor aguda e só minha. Anestesias de Deus na gente.
Só quero morar no interior do meu interior ...

Wednesday, September 17, 2008

5 anos de Point.


Point,

Até parece aquele longínquo ano de 2005 quando olhei pra vc e senti que ficaria comigo até vc ficar velhinho e partir deste mundo.
Amigos como vc, são para toda uma vida.
Amores como vc, não me canso de amar.
Perdoe-me pela falta de prioridade em estar com vc.
Saiba que, mesmo ,por vezes, eu estando longe, vc nunca será abandonado ao relento neste mundo.
Terei sempre braços fortes para tratar vc e não permitir que ninguém o machuque.
Parabéns pelos 5 anos de vida!
Amo você meu filho amado.

Lugares.


Aonde ir.
Cuidado que não cabe na necessidade do outro.
Outro que não enxerga cuidado em si.
Vento que leva o que necessita ser levado.
Chuva que molha a terra, trazendo talvez novas flores.
E frutos, quem sabe.
Coração que sentia ser pedaço do meu amor, perdido.
Amor que era pedaço do meu coração, cortado.
Perdido. Cortado. Amado. Ressarcido.
Não sei. Pouco sei. Melhor não saber.
Deixo o tempo fazer cair a última gota de orvalho.

Monday, September 01, 2008

Olhe.


Olhe para os que seguem insatisfeitos - é coração em falta, - porque falta amor.
Olhe para os que seguem cabisbaixos - é coração triste - cheio de vazios.
Olhe para os que seguem sorrindo demais - é coração palhaço - que vive pro outro sorrir.
Olhe para os que seguem enraivecidos - é coração com cancêr - que vive na mágoa.
Olhe para os que seguem carentes - é amor em desperdício - que vive em isolamento.
Olhe para os que seguem orgulhosos - é amor avarento - que vive sem pedir.
Olhe para os que seguem sós - é amor sozinho - que vive na solitária.
Olhe para os que seguem felizes - é amor saudável - que vive de intimidade.
Olhe para os que seguem reclamando - é amor pedinte - que vive de misérias.
Olhe para todos os amores que passam travestidos das mais inimagináveis vestimentas.
Olhe para o amor - ele sempre passa por você, basta que você o toque.

Saturday, August 30, 2008

tristeza dos olhos


A tristeza das pessoas está nos olhos.
Num olhar cansado e distante.
Num sorriso forçado e sem viço.
Numa palavra que escapa falando do sofrimento vivido.
As pessoas estão nos olhos da tristeza.
Tristeza que se esconde. Que agride a quem olha com amor. Tristeza que geme calada.
Ser triste na dor de quem é triste na vida. Olhar o outro como se ele tivesse direito a sofrer, a falar, a gemer, a chorar, a ser.
Ser sem cobranças. Sem reclamos de perfeição.
Apenas existir em si mesmo sem a sombra de quem já cresceu.
É difícil crescer. Não exija de uma criança que não chore.
Não exija de um adulto ser forte o tempo todo.
Permita que o outro chore e viva ...
e sobreviva em si para si.

mundo sem amor.


Hoje tive vontade de ir embora daqui e voltar para o meu mundo. Meu mundo bom. Onde os sentimentos fazem sentido. Onde a dor é uma estranha. Onde a vida de dentro se desvela.
Onde criança é criança, e não sofre a dor de quem já está pronto para sofrer.
Onde os animais são amados em sua inocência e não desconsiderados.
Onde as aparências são apenas o que se pode ver e não o que se é.
Onde o amor é livre e sem amarras. Onde ele não faz penar, nem gemer.
Onde Deus vive ... onde a vida sobrepuja.
Vou voltar ... não quero mais viver num mundo sem amor.

Sunday, August 24, 2008

Aonde Deus possa me ouvir


Onde Deus possa me ouvir

Sabe o que eu queria agora, meu bem...?
Sair chegar lá fora e encontrar alguém
Que não me dissesse nada
Não me perguntasse nada também
Que me oferecesse um colo ou um ombro
Onde eu desaguasse todo desegano
Mas a vida anda louca
As pessoas andam tristes
Meus amigos são amigos de ninguém.

Sabe o que eu mais quero agora, meu amor?
Morar no interior do meu interior
Pra entender porque se agridem
Se empurram pro abismo
Se debatem, se combatem sem saber

Meu amor...
Deixa eu chorar até cansar
Me leve pra qualquer lugar
Aonde Deus possa me ouvir
Minha dor...
Eu não consigo compreender
Eu quero algo pra beber
Me deixe aqui pode sair.

Adeus...

Estou apaixonada por essa canção. Ela retrata momentos nossos da mais íntima solidão. Uma solidão sadia que nos leva ao mais alto.
Experimentamos a solidão desde que saímos do útero materno e ela se estende até o dia em que fechamos os olhos para este mundo. No entanto, têm pessoas que parecem tornar a solidão de existir mais branda, mais suportável.
Essas pessoas são dependentes do nosso amor para acolhê-las em nosso ninho.
Pessoas raras, mas que são tão vivas em amor, que o mundo delas parece escapar a um olhar menos atento.
Pessoas que já perpassaram solidões tão agonizantes que já sabem procurar Deus.
Certa vez Chico Xavier perguntou a Emmanuel porque as pessoas não acreditavam em Deus, e Emmanuel sem titubear, respondeu : - Porque elas ainda não sofreram o bastante.
Acho que essa fala sintetiza o que é viver.

Monday, August 18, 2008

Frio


Hoje acordei com tanto frio ... pus tantos cobertores, mas nada parecia aliviar. Era um frio de dentro, por dentro, para dentro, - de mim.
Têm dias que são de frio mesmo. Dias em que o abatimento do coração se faz perceber, e as sensações, e os sentidos, são mais indefesos. Onde não há como se proteger do que dói e lateja, e cresce, partindo-se em nós.
Indo embora de leve,a vida se espalha por entre nossas agruras mais íntimas. E a continuidade do que é vão, quando vai embora, também maltrata.
Maltrato do sentir que nos devolve ao que é frágil. Ao que toca, sem fazer-se um presente. Ao que é ausente e anestésico. Ao que foi terminação nervosa.
A vida e suas idiossincrasias que nos transcendem ...

Monday, August 11, 2008

Quero voltar.


''Eu não sou tão triste assim, é que hoje eu estou cansada''
Clarice Lispector

Essa frase de Clarice nos retrata todo o cansaço do mundo, de ser gente - de ser humano.
Estou mesmo cansada de estar aqui. Quero voltar pra casa. Saudades de Deus, talvez. Saudades do mundo do meu coração.
Tem sido difícil me adaptar aqui. Tem sido penoso existir.
Nesse mundo de fantasia ...

Thursday, August 07, 2008

De repente!


De repente ... um vazio.
Saudades de uma mão. De um olhar cúmplice. De um abraço.
Saudades de mim, talvez. Saudades do que nunca pude ser para alguém.
Saudades de partir sem partir-se. De despedaçar, sem despedaçar-se.
De ser humano sem desumanizar.
Oco. Sem eco. Sem brilho.
Solidão que desarma. Que faz ir ao encontro ...
Pessoas sós demais. Pessoas tão circundantes que não saem de si.
Um momento de transição. Não minto quando digo que conheci muitas pessoas iguais.
O igual por vezes é o que nos faz ser diferente. Porque é insuportável sentir igual.
Sentir a indiferença de quem ainda não sabe nada sobre o amor ...
Graças a Deus, a vida é eterna ...

Tuesday, August 05, 2008

Meu bichinho bonzinho.


Recebi uma notícia que me levou para outro pensamento. Os acontecimentos da vida sempre nos fazem repensar tudo.
O cachorro de uma amiga aqui do prédio morreu, estava com 10 anos, a idade que Hully fará em outubro.
Essa notícia fez com que eu me esbarrasse na possibilidade de viver sem Hully. A partir desta possibilidade, o pranto se estendeu em meu coração.
Logo vc, Hully, uma relação de verdadeiro amor ... de tanto cuidado e compreensão.
Logo vc, que viveu comigo minhas piores fases, minhas piores dores, minhas torrentes de dor que mais se demoraram ...
Vc que sempre me olhou como niguém conseguiu até hj. Vc que conhece minhas doenças de ser humano falho ...
Vc que eu amei desde a primeira vez que te vi ...
Vc sempre foi tão forte ... até hj nunca adoeceu ... acho que é porque vc tem tanto amor, que não há espaço pra raiva, nem ressentimento, nem nada que faz, nós humanos, nos destruirmos.
Vc é amor puro em forma de bichinho.
Bichinho bonzinho, como te chamo, que Deus mandou especialmente pra mim, para que vc me curasse da dor de existir sozinha.
Obrigada meu anjo bom, que Deus possa ser misericordioso comigo e permitir que vc fique mais tempo aqui, me ajudando a ser feliz, a não desistir ... do amor.
Amo vc mais que tudo nesse mundo.

Sunday, August 03, 2008

Minha herança : uma flor


Minha herança : uma flor

Achei você no meu jardim
Entristecido
Coração partido
Bichinho arredio

Peguei você pra mim
Como a um bandido
Cheio de vícios
E fiz assim, fiz assim

Reguei com tanta paciência
Podei as dores, as mágoas, doenças
Que nem as folhas secas vão embora
Eu trabalhei

Fiz tudo, todo meu destino
Eu dividi, ensinei de pouquinho
Gostar de si, ter esperança e persistência
Sempre

A minha herança pra você
É uma flor com um sino, uma canção
Um sonho em uma árvore ou uma pedra
Eu deixarei

A minha herança pra você
É o amor capaz de fazê-lo tranqüilo
Pleno, reconhecendo o mundo
O que há em si

E hoje nos lembramos
Sem nenhuma tristeza
Dos foras que a vida nos deu
Ela com certeza estava juntando
Você e eu
(2x)


Encontrei tanta beleza nessa canção. Acho que ela retrata nossas tentativas de reencontrar alguém que amamos mas que parece tão distante de nós.
Todos temos dores. Todos temos amores.
Alguns sangram tanto em nós. Outros nos fazem tão humanos. Outros nos afastam para sempre do que pensamos ser o amor.
Assim a vida se deflagra em erros e acertos, em vontade de ser bom, de ser capaz.
Em vontade de trilhar rotas diferentes. Em escapar, por vezes.
Fugir de nós. De reflexos nossos.
É o fingir em nós pro outro que às vezes nos resgata para o que é verdadeiro, partindo do que é idílico somente.
A vida e suas maneiras de nos apontar caminhos, amparando-nos nos erros para que os acertos futuros tenham base.
Não se faz ninho em tempo de tempestade senão os filhotes ficam desabrigados na primeira chuva.
Cuidado com os presságios do tempo antes de fazer o seu ninho ... fique atento ...para depois não chorar a culpa de ter perdido todos os filhotes.
Não há espaço pra inocentes neste mundo. Há espaço pra adultos.

Monday, July 28, 2008

O tempo leva ...


As pessoas demoram em nós. Não adianta querermos abortá-las, elas sempre de alguma maneira estarão exoneradas em nós.
Exoneradas porque há algo faltante que existe em qualquer tipo de abrigo dado, de amor desdobrado, de doação destinada a quem quer que seja. Há sempre o vazio e o nada que não foi mitigado.
Há sempre a fome.
Fome de ser amado, de ser reconhecido.
Há sempre o que faltou numa relação primária e que a nobreza do que é atual exige.
Há sempre o significado do que foi ignorado que volta para nos cobrar presença e cuidado.
Há o paraíso perdido de Proust, paraíso que nos foi usurpado pelo vir a ser adulto.
Somente a criança não suporta a frustração; o adulto sobrevive a partir dela para o mundo.
Crescer é suportar ser frustrado o tempo todo. É amar quem eu sou, mesmo incapaz de despertar o amor de quem quero, de quem amo.
Amar é lidar com o mundo velho em si com a pureza de uma criança que apenas quer desbravar ...
Viver é mitigar a dor de cada dia mais pungente, de cada noite mais gélida, de cada madrugada ao relento.
É recriar o próprio coração mesmo que a obra de arte não seja compreendida.
Morrer é desviar o percurso que sentimos ser o nosso; é não querer ir pelo mesmo caminho apenas porque já o conhecemos falho. Esquecendo que nossos caminhos também são humanos. Que falam de nós, que nos denunciam. Quando os erros são óbvios, quando são os mesmos, quando são simplesmente os nossos, de todos os dias, de todas as noites.
É essa eterna passagem pelas pedras em nós que faz com que um dia elas sejam lapidadas e se transformem em pedras preciosas.
No entanto, só são preciosas porque já foram pedras primitivas um dia ...

Monday, July 21, 2008

O sangue do outro.


Eu conheci razoavelmente bem Clarice Lispector. Ela era infelicíssima, Zézim. A primeira vez que conversamos eu chorei depois a noite inteira, porque ela inteirinha me doía, porque parecia se doer também, de tanta compreensão sangrada de tudo. Te falo nela porque Clarice, pra mim, é o que mais conheço de GRANDIOSO, literariamente falando. E morreu sozinha, sacaneada, desamada, incompreendida, com fama de "meio doida”. Porque se entregou completamente ao seu trabalho de criar. Mergulhou na sua própria trip e foi inventando caminhos, na maior solidão. Como Joyce. Como Kafka, louco e só lá em Praga. Como Van Gogh. Como Artaud. Ou Rimbaud.

Caio Abreu

Existem pessoas que doem mesmo em nós. Pessoas em que a dor não cabe em nosso peito por mais que queremos extirpá-la e alocar dentro de nós para protegê-las.
Pessoas que parecem não parar de sangrar e que a emoção sobrevive muito ferida.
Pessoas em que o limiar de dor e solidão são tão profundos, que nem podemos apreender ...
Essas pessoas estão nas ruas, nos shoppings, dentro de nossa casa, na igreja, num barzinho, num show. Essas pessoas estão na escola, no trabalho, no mundo. Elas seguem em frente porque não há outra maneira de se viver.
No entanto, enxerguem essas pessoas. Elas precisam do seu olhar.
Escutem essas pessoas. Elas precisam desabafar.
Amem essas pessoas. Elas precisam desesperadamente de amor.
Não as isolem. Não as queiram longe pelo assombro de dor que provocam.
Às vezes só basta querer fazer contato ...
Basta querer saber ...

Saturday, July 19, 2008

Um cãozinho.


Um cachorrinho.
Que é novinho, alegre, ainda sem amargura ou sofrimento diante do mundo, das pessoas. Que acredita, confia no amor.
Que a gente brinca, se enche de vida, de carinho.
E depois coloca no escuro, no quarto dos fundos.
Até chegar o outro dia de brincar novamente.
Até que o cachorrinho cresce, e cansa de brincar.
Ele quer existir.
Mas não tem espaço mais pra ele, porque ele cresceu.
e então se desfazem dele.
O amor resultou inútil, não há mais espaço agora em casa.
Afinal, as crianças já cresceram.
Afinal, o amor desse bicho já se tornou uma rotina.
Afinal, amores óbvios nunca são valorizados.
Afinal, cachorro sofre. Gato é quem é feliz.

Thursday, July 17, 2008

A inconcretude do amor.


Prova de um amor.
Amor posto à prova. Questão de olhar.
Dizem os sábios que amar alguém incondicionalmente provém da total inutilidade do ser amado. Amo porque você já não pode ser nada para mim. Amo porque o amor por você resultou inútil. Amo porque você precisa se reconstruir para poder construir algo em mim.
E dessa orfandade de amor, alguém se torna grande. Alguém cresceu em desalento.
Amar a vida. Amar o mundo. Amar as pessoas enquanto órfãos que somos, configura as nuances do existir.
Inexistência de ser humano, para a existência de um preencher, de um preencher-se. De um desfazer. De um desfazer-se.
Desmedido. Desprevenido.
Recostado ao vento.
Vento que assobia alto.
Que lampeja rumores de vida quieta.
Tempo que anuncia horizontes.
Que rompe ilusões.
Que faz amor com a brisa intocável.

Viver e suas estatuetas de vitórias e frustrações numa mesma vergastada. Vida que desnuda travessões, que pune mentiras, que desvirgina solidões.
Solidões travestidas de amor. Amores fantasiados de solidões.
Tempestades que nos levam. Que nos trazem de volta, em tempo vindouro.
enfim,
sobrevivência.

Sunday, July 13, 2008

Ausência de choro.


Não choro mais. Na verdade, nem sequer entendo porque digo mais, se não estou certo se alguma vez chorei. Acho que sim, um dia. Quando havia dor. Agora só resta uma coisa seca. Dentro, fora. Chorar por tudo que se perdeu, por tudo que apenas ameaçou e não chegou a ser, pelo que perdi de mim, pelo ontem morto, pelo hoje sujo, pelo amanhã que não existe, pelo muito que amei e não me amaram, pelo que tentei ser correto e não foram comigo. Meu coração sangra com uma dor que não consigo comunicar a ninguém, recuso todos os toques e ignoro todas tentativas de aproximação. Tenho vergonha de gritar que esta dor é só minha, de pedir que me deixem em paz e só com ela, como um cão com seu osso.A única magia que existe é estarmos vivos e não entendermos nada disso. A única magia que existe é a nossa incompreensão.
Frágil – você tem tanta vontade de chorar, tanta vontade de ir embora. Para que o protejam, para que sintam falta. Tanta vontade de viajar para bem longe, romper todos os laços, sem deixar endereço. Um dia mandará um cartão-postal de algum lugar improvável. Bali, Madagascar, Sumatra. Escreverá: penso em você. Deve ser bonito, mesmo melancólico, alguém que se foi pensar em você num lugar improvável como esse. Você se comove com o que não acontece, você sente frio e medo. Parado atrás da vidraça, olhando a chuva que, aos poucos começa a passar.Caio Fernando Abreu

Friday, July 11, 2008

Hully.


Hoje me esbarrei no olhar de Hully. Estava absorta em meus pensamentos de tristezas vazias, quando de repente, notei um olhar profundo, certeiro, incisivo. Era Hully me olhando. Ele não piscava o olho, como se num lampejo, eu fosse escapar dele. Pensei de mim para comigo mesma, o que aquele bichinho bonzinho tanto olhava em mim. Me dei conta que ele somente não me esquecia quando eu estava com dor. Com a dor que ninguém apreende. Uma dor íntima e minha.
Hully olhava como se me enxergasse por dentro, foi quando perguntei : - Preto, por que você me olha assim?! ... ele me olhou mais por alguns instantes e chorou ... chorinho de cachorro, uma palavra que ele nao tem como dizer.
Um cuidado, um carinho, uma prova de amor.
Hully sempre cuidou do que era doente. Aqui em casa, sempre que alguém está mais carente e frágil, é com essa pessoa que ele fica, inalterável em seu olhar. Não se move até que a dor siga seu percurso fora de nós.
Faltam pessoas como Hully neste mundo.
Falta o olhar dele.
Falta o amor.

Abismo


Um abismo nos separa.
Abismo de segredos que não querem falar.
Abismo de medos recalcados.
Abismo de abandono e culpa.
Abismo.
Abismo de susto. De indiferença. De dor.
De doer também.
De remendar. De um cuidado inexpressivo. Cuidado que não toca.
Cuidado que não repara.
Viver é preciso. Ser feliz é do superar-se. Do reerguer-se.
Do tomar-se pra si.
Do requerer-se.
Esbarros em gemidos. Facetas de desespero mudo.
Mundos de sentimento polido. Que já não apela, pois já tem solidão suficiente.
Limites de ser amor. Limites de ser dor.
De ser alguém.

Wednesday, July 09, 2008

o Amor.


"(...) esse amor adiado..esse amor que fica pra sempre...né...essa idéia do amor...do amor que existe...algo que pode ser aproveitado mais tarde, que não se desperdiça, que passa-se o tempo... milênios...e aquele amor vai ficar até debaixo dágua...vai ser usado por outras pessoas...amor que não foi utilizado..porque não foi correspondido, então ele fica ali..fica ímpar.. pairando ali...esperando que alguém apanhe e ...complete a sua função ...de amor" ( Chico Buarque, em entrevista sobre "Futuros Amantes")

Função de amor. Amor que não sabe amar. Tempo do tempo. Estações contínuas. Continuar. Voltar a ser.
Intrigas. Não desenvolver de pensamentos hoje.
o amor.

Monday, July 07, 2008

A dor é de quem tem.


Tentou contra a existência
Num humilde barracão.
Joana de tal, por causa de um tal joão.

Depois de medicada,
Retirou-se pro seu lar.
Aí a notícia carece de exatidão,
O lar não mais existe
Ninguém volta ao que acabou
Joana é mais uma mulata triste que errou.

Errou na dose
Errou no amor
Joana errou de joão
Ninguém notou
Ninguém morou na dor que era o seu mal
A dor da gente não sai no jornal.

Chico Buarque.

É verdade. Ninguém vive em nossa dor exceto nós mesmos. Ninguém a toma pra si. Porque é nossa, nos pertence. Ninguém apreende pra si o que é do outro, e quando o faz, vive uma das dores mais pungentes, - a dor da impotência.
Lidar com o avesso de ter dor ou senti-la no outro nos localiza na humanidade. Nos retém e especifica nesse lugar de passagem.
Entregar - se à ela como se entrega a alguém que se ama é um desafio. É para os sábios. Para os que já não temem mais a perda. Para os que perderam em si o que foi ilusão de sentido. Para os que renascem dos remendos que o outro rasgou. Para os que rasgam o que foi beleza passageira. Para os que não tem medo do que é podre e vil. Para os que se rebelaram diante da solidão antes do abate do mundo.
Para os que aprenderam a ser, depois de uma vida errante no espelho do outro.
Enfim, para os que também são dor.

Sunday, July 06, 2008

Renascer.


''Tudo é uma questão de posição''. Frase de uma amiga que ressoou em mim. Qual a posição que ocupo nas pessoas do meu mundo? Qual a posição que me permito ser colocada? É uma questão de escolha ou de estruturas emocionais?
Nunca se sabe porque ou como chegamos, estivemos, atingimos, determinado lugar na vida de alguém. Por qual porta ou janela aberta ... que entramos. Por qual espaço vazio, fomos nos aprochegando, ficando, sendo, tornando, dormindo, sonhando, crescendo, morrendo, renascendo. Ah, como é difícil desconstruir, como é difícil desconstruir-se no mundo de alguém, no nosso mundo.
Rivalidades da alma. Da batalha nefasta de ser gente. Traços do não controle, do não saber, do que é distante, do que é frio e dói. Como dói renascer!
É como querer gestar-se novamente com a esperança de uma criança, mas com a amargura já abarcada de um adulto ...
É pisar o espinho com o pézinho frágil de um neném. É dizer adeus quando ainda há tanto para permanecer.
É ser imundo, do mundo, para o mundo. É fazer contato. É fazer-se vivo. É enroscar-se nos conflitos da vida. Emaranhar-se.
E quanto a ficar ... a estar ... a sentir. E quanto a rejeitar ... a preterir ... a omitir. São avessos. Ou somente uma maneira de dizer-se cheio de sentido e nervos ... De dizer-se vivente. Sobrevivente. Renitente. Crescente.
Mormente.

Saturday, July 05, 2008

Espinhos


Hoje eu só queria um lugar. Um lugar onde eu não existisse mais. Um lugar longe de mim, onde nada pudesse me tocar.
Um deserto. Um coração novo. Uma rosa com os espinhos cortados.
Queria a não existência. O não desejo. O que é nada.
Queria me cortar inteira, para ver se depois, nasceria um tecido melhor.
Estou no escuro. Dos meus maiores dramas íntimos. Das minhas mentiras sinceras.
Da minha fraqueza que não pertence ao mundo. Do meu amor doente.
Do meu viver errante de sempre.

Quando eu fui ferido
Vi tudo mudar
Das verdades
Que eu sabia...

Só sobraram restos
Que eu não esqueci
Toda aquela paz
Que eu tinha...

Eu que tinha tudo
Hoje estou mudo
Estou mudado
À meia-noite, à meia luz
Pensando!
Daria tudo, por um modo
De esquecer...

Eu queria tanto
Estar no escuro do meu quarto
À meia-noite, à meia luz
Sonhando!
Daria tudo, por meu mundo
E nada mais...

Não estou bem certo
Que ainda vou sorrir
Sem um travo de amargura...

Como ser mais livre
Como ser capaz
De enxergar um novo dia...
Guilherme Arantes

Friday, July 04, 2008

=)



''Porque às vezes
Meu coração não responde
Só se esconde e dói...''

Acontece com quem vive. Com quem sente. Com quem não escapa da vida.
Com quem transpira, aspira, respira, inspira.
Com quem chora, com quem convulsiona.
Com quem grita, com quem somente faz balbucios de sua dor. Com quem gesticula.
Com quem ignora, com quem indiferencia. Com quem faz igual.
Com quem mata, com quem morre, com quem faz morrer. Com quem desencarna.
Com quem seduz, com quem excita, com quem rejeita, com quem agride.
Com quem ama, com quem desama, com quem nutre, com quem rompe.
Com quem esmaga, com quem liberta, com quem voa.
Com quem. Com alguém. Com o mundo. Com a vida.
Diante do ser.
Diante da metanóia. Da metalinguagem. Da metáfora.
Viver e seus limiares. Como é bom acontecer. Como é bom ser inacabado.

Wednesday, July 02, 2008

amor x preconceito


Às vezes o preconceito é maior que o amor. Maior que a dor de saber-se só.
Como tudo na vida, ele chega aos poucos, sem alardes, como quando alguém que você não conhece está atrás na fila e você não percebe. Chega como um estranho.
O preconceito não é íntimo, ele não permite o amor sem julgamentos, ele é a não aceitação de um amor. É um desamor.
Lidar com ele, é como lidar com alguém doente. Que precisa de cuidados mesmo que não os mereça. É assim a lida com os preconceituosos.É lidar com o terreno árido, cheio de pedras. Árduo. Sedimentado. Triste.
É um combate pros fortes. Os fracos desistem antes que ele se manifeste. Escondem-se e protegem-se no que o outro quer, sem lutas.
Viver é forte. Viver é fraco.
É ousar.

Tuesday, July 01, 2008

Coração.

Um coração na incubadora.
Eu o pus lá por tempo indeterminado.
Pus para se recompor, para que a máquina proporcionasse as funções vitais para aquele que precisa de cuidados especiais em suas atividades no início da vida. No entanto, pensei, será que um coração tem início, meio e fim ? Ou ele tão-somente sente todo o tempo?
Questionei-me, mas o mantive lá. Aquecido. Cuidado. Controlado pelo externo.
A vulnerabilidade era tamanha. Não sei quando voltará a existir por conta própria.
Quando voltará a ser somente mais um coração no mundo.

Sunday, June 29, 2008

Paraísos Perdidos.


''Estranho esse modo de ser que sustenta a felicidade na espera e na irrealização, o prazer, em não tê-lo alcançado''. Escrevi isso me despedindo de uma amiga. Era pra ela essa frase. No entanto pensei que não só ela vivia no paraíso perdido de Proust, existe muita gente que tem como filosofia essa premissa. São os que vivem na irrealidade, tem a fantasia como suporte. Não passam ao ato. Não ousam ir além dela. Não trazem pra si a crueza do que é vivido no real. Não querem as deformações. Rejeitam as marcas. Não suportam cicatrizes. Não sabem lidar com o que é vazio e sem beleza.
Portanto, desistem, preferem o peso do que jaz imanifesto. Do que gesta sem perspectivas de vir à luz. Dos abortos ignorados. Dos fetos deformados. Da vida que não fluiu. Do breu que não foi ofuscado.
Não escolher também é uma escolha. É um modo de ser. De estar. De viver. De morrer.
Viver e seus impasses inacabados.
Graças a Deus, nunca estamos prontos.
Graças a Deus, a vida é eterna.

óbvios.


Me peguei conversando com uma grande amiga no msn e disse : - Existe sempre um desamparo no que é óbvio. Calei. Senti. Fui além dessa frase pronta.
Será o amparo da certeza que nos conduz ? Ou o desamparo do que é óbvio é que nos encaminha?
E a incerteza, e o que é profundo ?
E o que está incólume? Se é que podemos estar nessa condição no mundo.
E tudo isso, onde fica, para onde vai. Como se faz, como se torna?
Estou numa profundidade onde as idéias, os sentimentos e os pensamentos não tem abrigo.
Talvez eu esteja sendo tão - somente óbvia na vida.
Nunca se sabe.

Estações.


Tempo de estações. De estacionar.
Tempo de perdição. De desencontro. De vácuos latentes.
Tempo de repetição. De erros óbvios, mas persistentes.
Tempo de olhar. Não se pode apenas ver. Luz demais cega.
Tempo de escutar. Não quero mais ouvir, escutar vai além.
Tempo de calar. Silêncio oculto. Silêncio gritante.
Tempo de desamor. De amor sem alma. Amor que não se adapta.
Tempo de desamparo. De reconhecer-se nas deficiências inscritas no próprio mundo.
Tempo que foi primavera. Com todas as flores.
Tempo que foi verão. Com todo o seu ardor.
Tempo que foi outono. Com seus frutos, mesmo alguns sendo imaturos demais. Caíram antes do tempo. Foram arrancados por mãos apressadas.
Tempo de inverno, com toda a elaboração lenta que isso implica.
Tempo de ser, simplesmente.
De existir no mundo.

Thursday, June 26, 2008

Deixo vc ir.


Despertei pensando nessa frase '' Mas o dia vem, e deixo você ir ...''
Até que ponto podemos deixar o outro ir?
Até que ponto partimos também, ou somos partidos?
Até que ponto o dia não se mostra como uma anestesia das partidas mais austeras?
No entanto, é preciso deixar, é preciso deixar-se. Mesmo que no fundo, nunca se consiga ir realmente.
Ficar, deixar, permitir, retornar. Palavras entoadas no mesmo destino. São laços, são vazios, são podas, são flores, quem sabe, com sorte, frutos.
Frutifiquei em meu vazio de dor.
Me fiz vazio que sustentou.
Me fiz desabrochar mesmo nunca tendo beleza.
A beleza passou. O ruído calou. A vida ruiu. O tempo curou.
Renasci do medo. Revivi a alegria de saber-se só.
Parti com a dureza de escolher ficar.
Fui,
Tornei,
Cresci,
Hoje somente sobrepujo o que já não sei de mim.

Saturday, June 21, 2008

Pontes.


Quero fazer a travessia.
Tenho medo do vagido do mundo que ouço todas as noites. Choro de infante, choro de criança, choro de bicho, de adulto, de velho. É choro.
É um pedido de ajuda. Vou ao encontro, volto inconsolável.
Mas é preciso ir. Não se pode refugar diante do movimento do mundo.
Viver é sábio. Viver é justo. Viver é triste. Viver é feliz. Viver é mergulhar.
Se não encontro, morro.
Morrer é profundo. Morrer é sagaz. Morrer, faz continuar.
Preciso da não proteção. Preciso não precisar . Precisar é frágil. Precisar é forte.
Amar é término. Amar é início. Amar é meio. Amar é fazer pontes.
É fazer amor.

Pessoas.


Minha vida está nas pessoas.
Nas pessoas que amei. Nas que não me permiti amar. Nas que não me amaram. Nas que quis amar mas não fui grande o suficiente. Nas que me rasgaram o coração. Nas que me reconheceram como um lar. Nas que me fizeram de abrigo. Nas que fui um abrigo. Nas que deixei morrer por falta de alimento. Nas que alimentei demais e as estraguei. Nas que abortei dentro de mim quando estavam quase vindo à luz. Nas que joguei luz demais e ceguei. Nas que sofreram o meu sofrer. Nas que sorriram o meu riso. Nas que ficaram quando deveriam partir. Nas que partiram quando deveriam ficar. Nas que refrigeraram quando poderiam aquecer. Nas que aqueceram quando o inverno parecia longo demais. Nas que morreram comigo, em todas as minhas mortes existenciais. Nas que renasceram comigo e me trouxeram de volta por diversas vezes. Nas pessoas ... está meu mundo.
Nas pessoas ... dentro de mim.

Hoje estava absorta pensando no que realmente fazia sentido pra mim, e me veio à mente ... somente pessoas que amo, que me fazem viva.

Friday, June 20, 2008

=)



Não ligue pra vida
Resto de amor ...
Não importa o mundo a se revelar.
Eu vou ampliar sua vinda em alto contraste com a volta ...
Close em preto e branco, com muito amor.
Quero ver você de perto, quero ver você de perto.

Hoje, despertei pensando no que seria presença,e no que faria dela, uma ausência. No que seria estar, no que seria partir.
Saí de mim para buscar a sutilidade e o limite desses conceitos, e voltei pra mim, sem respostas.
No entanto, embora sem resposta, não estava vazia.
Ressurgi preenchida com uma leveza que não me é peculiar. Voltei desarmada, pronta para o desamparo de não saber, de não compreender.
Jeito estranho de ser feliz, jeito estranho de ter vida.
Assim, passo; assim, parto; assim deserto.

Tuesday, June 17, 2008

Cuida-me, cuida-se.


Cuidar de uma criança é cuidar de sua mãe. Descobri isso hoje, quando me despedia de minha pequena paciente, e quem entrou em prantos, ao reverso da criança, foi sua mãe. Então pensei na fragilidade que subjaz na missão de ser mãe. Cuidar do indefeso em nós refletido no outro é sempre muito difícil. É uma travessia diante de nós, do que conhecemos e desconhecemos de nosso coração.
Hoje foi um dia pesado. Dia de desprender-se. Dia de deixar partir. Dia de desencontro.
E embora, viver nos traga sempre de volta, também nos faz partir por diversas vezes.
Gosto dessa dinâmica da vida que nunca nos deixa completamente sós. Que traz e leva as pessoas. Que as protege, que as aquece. Que as acalenta na dor.
Ser gente é sempre um processo de renascer ... nem da tristeza podemos desistir.
Continuar sempre ...
Viver sempre ...
para que um dia a morte nos assuma por inteiro.

Sunday, June 15, 2008

Assombros de dor.


Tenho me assombrado com a dor do mundo ultimamente. Quando pensamos que tudo está bem, irrompe uma cena que nos traz tanto sofrimento, sem paliativos, sem anestesia. O sofrimento muitas vezes nasce pra nós como a vida, como a tecitura de um projeto, como uma gestação. Ele vem em partes, nos desestruturando e rompendo ligaduras. Rompe, sutura, alicerça também, mas se faz preciso esperar o poder terapêutico do tempo, este que nos apela para paciência, para o amor, para a fé.
Tempo de dor ... para depois surgir o amor.
Tempo de ter tempo pra esperar.
Graças a Deus a vida é eterna ...

Dores da Vida.


A dinâmica da vida nunca pára. É interessante como a gente amanhece com as dores do dia anterior. Pequenas dores, grandes dores. Partidas inesperadas, mas urgentes quando existiu amor. Pessoas que precisam continuar somente dentro de nós porque nas estradas da vida não esbarraremos mais com elas. O destino mudou o plano de fundo ... e a maratona dos dias precisou seguir sem elas.
Mas o coração, esse grande sábio, pode mantê-las em nós, quando o tempo se tornar cruento demais, diante de tanta ausência.
Tantos dias seguintes, tantos vazios, tantas lágrimas contidas.
E embora a dor se aquiete, ela será sempre reconhecida, marcada, cravada no peito.
Peito que dorme, para suportar sentir ...
para suportar,
continuar.

Wednesday, June 11, 2008

A dor de uma criança.


A dor da fragilidade é sempre uma dor mais difícil de auscultar. No fundo, ela sempre traz de volta nossa criança interior, e quando isso irrompe, nos faz mais frágeis, mais sós, mais humanos.
Olhar para uma criança que chora, é voltar a ser sensível, é compreender que o sofrimento é implacável para todos. Ninguém está imune.
No entanto, olhar para uma criança que não chora às vezes faz a dor ser maior, porque queremos arrancar do seu peito um choro que talvez seja o nosso. O choro, as lágrimas, também precisam do seu tempo, elas têm seu próprio curso,a questão é saber esperar e acolhê-las quando se fizerem acessíveis, quando puderem vir à luz. Assim como gestamos um filho, um projeto, também gestamos uma dor que demora a se manifestar, isso não quer dizer que ela não esteja viva dentro de nós, mas que por alguma razão precisa ficar latente.
Não apressemos o percurso dela, não pensemos que ela seja menor.
Ela é simplesmente uma dor, a dor de uma criança.

Sunday, June 08, 2008

Gullivinho


Hoje, encontrei uma foto do meu filhotinho - Gulliver, no orkut de uma amiga. Naquele momento fui tomada por uma vontade imensa de colocá-la no meu álbum e dizer o quanto ele é especial em meu mundo.No entanto, eu queria colocá-lo sozinho, estava tentando recortar o meu rosto da foto, para que ele ficasse em destaque, somente ele, meu filhinho tão querido. Foi aí que algo me chamou atenção nesse instante, eu não pude recortar o meu rosto de perto dele, naquela foto éramos nós e ninguém poderia refutar essa imagem. Foi então que percebi o quanto Gulliver é indissociável de mim, o quanto faço parte dele, e o coração dele segue atado ao meu, sempre. Bastou uma imagem para que eu me desse conta, do amor que tinha, e às vezes não olhava muito, nem me dava conta. Assim, acontece na nossa vida, não olhamos as imagens como passagens da vida porque elas se tornam eternas, acontecendo o que for, a imagem fica, mesmo que a pessoa se vá. Todavia, ver além da imagem e olhar o que essa paisagem significa dentro de nós se faz caminho de amor ... e o melhor, trazemos o amor de volta, quando por vezes ele fica relegado ao abandono.
Amo meu filho ...amo o que ele se tornou diante de mim.

Saturday, June 07, 2008

Amor ou Admiração ?


Muitos procuram o amor pelo intermédio da admiração.Não consigo conceber o amor como uma esfera do admirar. Porque o admirar traz a frustração como companheira, sempre que surgir, e nesse sentido, as pessoas falam que deixaram de amar porque não admiram mais. Amor pobre, amor raso.O amor é justamente a frustração total com o outro em sentido profundo, você ama porque já foi além da admiração. Você já é maduro o suficiente para saber o outro falho, vazio, e mesmo assim continuar amando, acreditando, cuidando.
Admirar é um desamor, porque é um verbo limitado,pois exige do outro algo brilhante ou extraordinário para advir o amor.Admiro porque o outro tem uma força que não possuo ainda, admiro porque ele conseguiu ser o que ainda não sou, mas iludir-se pensando isso ser o amor é uma grande ilusão.
Admiração e amor seguem por mundos opostos pois o desencontro deles é previsível demais.
Amar sim, mas não por admiração, porque quem ama assim nao resiste ao que surge depois disso ...

Friday, May 30, 2008

=)


Mas seu eu gritasse uma só vez que fosse, talvez nunca mais pudesse parar. Se eu gritasse ninguém poderia fazer mais nada por mim; enquanto, se eu nunca revelar a minha carência, ninguém se assustará comigo e me ajudarão sem saber; mas só enquanto eu não assustar ninguém por ter saído dos regulamentos. Mas se souberem, assustam-se, nós que guardamos o grito em segredo inviolável. Se eu der o grito de alarme de estar viva, em mudez e dureza me arrastarão pois arrastam os que saem para fora do mundo possível, o ser excepcional é arrastado, o ser gritante.”

Clarice Lispector.

Tuesday, May 20, 2008

Parabéns Kinha!


Kinha,

Toda palavra dita com amor pode nos trazer de volta à vida. Elas tem o dom de nos ressignificar mesmo quando o verdadeiro
sentido parece triste e sem viço. Mesmo assim, nunca podemos desistir de falar, mesmo que o outro nunca as escute, ou que, por tantas agruras, tenha percebido que as palavras tem a missão somente de machucar. De todo o modo, é imprescindível falar.

Você em seu exemplo vivo, pôde me ensinar isso, mesmo que muitas vezes o abismo do silêncio tenha divisado nossa relação.
Saiba que você é um ser humano raro, em intuição, coração e alma, e que cada partícula do seu amor enviado ao mundo, jamais seria em vão.

Saiba que você encanta as pessoas com a sua possibilidade e crença que a vida é feita para o amor e a felicidade, e que nenhuma crueza do mundo pôde arrancar isso da sua alma, resoluta e firme em seus ideais íntimos.

Saiba que amar você é uma oferta dos céus, a nos ensinar a olhar pra dentro e para o alto, como a buscar uma pombinha branca entre tantas águias brutas.
A convivência com você, torna as pessoas mais humanas e sensíveis ao olhar que sente, e as alerta para as mentiras sinceras que contam para si mesmas, todos os dias.
Desejo que toda a sua vida possa ser contada para os que chegarem depois de você, e vou sempre fazer questão de falar do seu exemplo vivo de fé, de luta, da sua sensibilidade tamanha em ser gente.Do seu amor incondicional, enxergando e possibilitando ao outro a ser como é, e mesmo assim ser mais feliz.

Feliz Aniversário, eu a amo.
Até sempre,
sua filha
gra

Saturday, May 17, 2008

=)


Meu pai sempre me emociona com a disciplina intransferível dele diante da vida.Por vezes, páro e penso no que se passa verdadeiramente em seu coração humano.
Esta letra me fala de uma símplicidade e naturalidade diante dos reveses da vida.

Filho Que Eu Quero Ter
Toquinho
Composição: Toquinho/ Vinicius de Moraes

É comum a gente sonhar, eu sei, quando vem o entardecer
Pois eu também dei de sonhar um sonho lindo de morrer
Vejo um berço e nele eu me debruçar com o pranto a me correr
E assim chorando acalentar o filho que eu quero ter
Dorme, meu pequenininho, dorme que a noite já vem
Teu pai está muito sozinho de tanto amor que ele tem


De repente eu vejo se transformar num menino igual à mim
Que vem correndo me beijar quando eu chegar lá de onde eu vim
Um menino sempre a me perguntar um porque que não tem fim
Um filho a quem só queira bem e a quem só diga que sim
Dorme menino levado, dorme que a vida já vem
Teu pai está muito cansado de tanta dor que ele tem


Quando a vida enfim me quiser levar pelo tanto que me deu
Sentir-lhe a barba me roçar no derradeiro bei..jo seu
E ao sentir também sua mão vedar meu olhar dos olhos seus
Ouvir-lhe a voz a me embalar num acalanto de adeus
Dorme meu pai sem cuidado, dorme que ao entardecer
Teu filho sonha acordado, com o filho que ele quer Ter

Saturday, May 10, 2008

Saudades de um Amigo.

O tempo passou e você não retornou à vida que vivia.As horas se fizeram longas diante do vazio que ficou com a sua ausência.
Por vezes me imagino conversando com você, como se estivesse me ouvindo, me compreendendo, me amando, como sempre fez.Agora me pergunto, como está seu coração, o que ele gostaria de dizer para o mundo, e o quanto ele deve estar cansado de existir sem expressão.
Existir com dor ... ou não existir sem dor ?Nunca se saberá ... sinto sua falta.Amo você como quem ama a felicidade que passou como um sopro...Amo você porque não conheço outra maneira de ser sua amiga.
Amo você por encontrar na saudade um abrigo para o meu coração...
Saudades.

Saturday, March 08, 2008

divagações.


Muitos querem o amor ,mas poucos o suportam.É o que tenho percebido no decorrer da minha vida.Porque em verdade,as pessoas não querem sentimentos,mas sim emoções.Não querem estabilidade,mas sim imprevisibilidade.E nada disso tem a ver com o amor.Acho que Clarice Lispector estava correta quando disse que o amor é a grande desilusão de tudo.E no fundo,é mesmo.Porque é um ficar na vida do outro sem condições...é um acesso íntimo e absoluto para quem sente e confia.
Estava hj divagando sobre isso...
Resolvi partilhar com vcs...

Sunday, March 02, 2008

lembranças


A melhor parte da nossa memória está deste modo fora de nós. Está num ar de chuva, num cheiro a quarto fechado ou no de um primeiro fogaréu, seja onde for que de nós mesmos encontremos aquilo que a nossa inteligência pusera de parte, a última reserva do passado, a melhor, aquela que, quando se esgotam todas as outras, sabe ainda fazer-nos chorar.»
Marcel Proust, Em busca do tempo perdido, VI