Monday, July 21, 2008

O sangue do outro.


Eu conheci razoavelmente bem Clarice Lispector. Ela era infelicíssima, Zézim. A primeira vez que conversamos eu chorei depois a noite inteira, porque ela inteirinha me doía, porque parecia se doer também, de tanta compreensão sangrada de tudo. Te falo nela porque Clarice, pra mim, é o que mais conheço de GRANDIOSO, literariamente falando. E morreu sozinha, sacaneada, desamada, incompreendida, com fama de "meio doida”. Porque se entregou completamente ao seu trabalho de criar. Mergulhou na sua própria trip e foi inventando caminhos, na maior solidão. Como Joyce. Como Kafka, louco e só lá em Praga. Como Van Gogh. Como Artaud. Ou Rimbaud.

Caio Abreu

Existem pessoas que doem mesmo em nós. Pessoas em que a dor não cabe em nosso peito por mais que queremos extirpá-la e alocar dentro de nós para protegê-las.
Pessoas que parecem não parar de sangrar e que a emoção sobrevive muito ferida.
Pessoas em que o limiar de dor e solidão são tão profundos, que nem podemos apreender ...
Essas pessoas estão nas ruas, nos shoppings, dentro de nossa casa, na igreja, num barzinho, num show. Essas pessoas estão na escola, no trabalho, no mundo. Elas seguem em frente porque não há outra maneira de se viver.
No entanto, enxerguem essas pessoas. Elas precisam do seu olhar.
Escutem essas pessoas. Elas precisam desabafar.
Amem essas pessoas. Elas precisam desesperadamente de amor.
Não as isolem. Não as queiram longe pelo assombro de dor que provocam.
Às vezes só basta querer fazer contato ...
Basta querer saber ...

1 comment:

Anonymous said...

Perfeito Grazi.
basta querer fazer contato... querer saber!!
Beijo Grande e qq coisa, estou aqui. Sempre. Ao seu lado. Dos eu lado.
Dani